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Em clima místico, de alegria e recordando a trajetória histórica de luta das famílias iniciada com o Acampamento Marcha Bahia, em 2007, os Sem Terra comemoram a demarcação da terra pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a resposta positiva do governo referente a aquisição definitiva da terra.
Este foi um dos passos dados à emissão de posse do Assentamento Bela Manhã.
Com isso, os trabalhadores estão se organizando em 15 agrovilas, com dez famílias cada, visando maior eficiência na produção agroecológica e garantindo o intercâmbio de experiências e construção coletiva do conhecimento.
Para os Sem Terra este momento representa os resultados da luta de milhares de trabalhadores e trabalhadoras que sonham com a Reforma Agrária.
História do assentamento
Em 2007, o acampamento Marcha Bahia nasce através da luta de 1.500 trabalhadores que se organizaram a partir do método político adotado pelo MST com o objetivo de pressionar o Governo a realizar a democratização da terra no país.
Situado inicialmente nas proximidades do povoado de Duque de Caxias e às margens da BA 290, em Teixeira de Freitas, as famílias permaneceram por três meses acampadas aguardando um retorno do Incra e do Governo do Estado.
Edivaldo Gomes Pereira, militante, recorda que o acampamento foi fruto do árduo e continuo trabalho de mobilização das famílias nos bairros da cidade de Teixeira de Freitas.
“Criamos alguns grupos de militantes nas comunidades periféricas que saíram convidando o povo para participar da luta, em seguida realizamos reuniões quinzenalmente para explicar a importância da democratização da terra e as possibilidades de melhores condições de vida”, explicou Pereira.
Sem respostas do Governo as famílias ocuparam a Fazenda Céu Azul, também em Teixeira, onde permaneceram por mais três meses até receberem um pedido de reintegração de posse.
Despejadas, as famílias Sem Terra acamparam provisoriamente na área da Escola Média de Agropecuária Regional da Ceplac (EMARC), área do estado, onde permaneceram por oito meses sobre promessa do Governo.
Em 05 de abril de 2008, as famílias ocuparam a fazenda Bela Manhã, com mais de 2 mil hectares, onde permaneceram acampadas até os dias atuais.
“Nunca pensei em desistir”
Neste processo de luta e resistência, alimentada pela utopia, Elizabete Gil, acampada desde o inicio do Pré Assentamento, relata sua história de vida na luta pela terra.
“Nasci, cresci, casei, tive filhos e os criei no campo. Depois de 29 anos de casada me separei e, devido a isso, fui viver na cidade. Nesta época passei por muitas dificuldades”, contextualiza Gil.
“Fui criada no campo, não me adaptei a viver na cidade. Eu gosto da roça e foi por isso que entrei no MST. Com isso, recebi o convite para montar acampamento com varias famílias Sem Terra. Foi um período de luta, sofri muito no início pois tive que carregar madeiras na cabeça para fazer os barracos em cada acampamento novo”, explica.
Elizabete se emociona ao relembrar que estava sozinha neste processo de luta o que “dificultou muito a minha participação nos trabalhos pesados”.
“Tive que trabalhar muito, pois não tinha um salário e não sou aposentada. Sobrevivi trabalhando dias e dias cultivando minha pequena roça, trabalhei no cabo da enxada e nunca pensei desistir”, enfatiza.
Segundo Gil houve momentos de questionamentos sobre a permanência e participação na luta, pois a terra estava demorando.
No dia que soube que a terra seria demarcada pelo Incra, Ela se emocionou e chorou muito de alegria em ver o sonho de permanecer trabalhando na terra se realizando.
Hoje, Elizabete acredita que no seu lote poderá produzir de tudo e trazer novos companheiros e companheiras a participarem da luta pela terra.
“Nunca pensei em desistir! Muitas famílias desistiram, mas eu sempre falei não vou desistir. Irei ficar até quando tiver forças para caminhar e marchar”, conclui.
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