AS CONQUISTAS E OS DESAFIOS PARA OS PRÓXIMOS 25 ANOS DO MST

O MST comemorou 25 anos da primeira ocupação no estado na Bahia nos dias 6 e 7 de setembro. Com uma grande festa no assentamento 4045, em Alcobaça, extremo sul do estado, mais de mil militantes e amigos lembraram a data histórica no mesmo local da primeira ocupação, que também foi a primeira do Nordeste.

Elizabeth Rocha, da coordenação nacional, lembrou aos participantes a importância das conquistas obtidas nestes 25 anos, e salientou os enormes desafios que ainda existem para a consolidação do movimento no estado baiano.

Segundo ela, a atuação do MST na Bahia é marcada por dois elementos principais: “trabalho de base e mobilização”. Com isso, o movimento atingiu a impressionante marca de 132 assentamentos e 212 acampamentos, totalizando 34.292 famílias nas áreas. Mesmo assim, garante Beth, a massificação ainda é um desafio: “estamos em apenas 141 dos 417 municípios da Bahia”.

No campo da produção, o movimento na Bahia já alcançou uma marca expressiva controlando redes e cadeias de produção de café, cacau, leite, mamona e mandioca. E é nos acampamentos onde a produção se destaca. 

Mas os desafios nesta área ainda são grandes, segundo a dirigente. O primeiro deles é fixação da marca do MST. “Muita gente consome nossos produtos sem saber que são da reforma agrária. Temos que avançar nas agroindústrias para valorizar nossos produtos e para todos saberem que estão consumindo produtos do MST”.

Além disso, a mudança da matriz produtiva se coloca como um dos maiores desafios: “Antigamente não víamos como problema usar agrotóxicos. Hoje, temos a consciência de que devemos produzir sem venenos e adubos químicos, adotando a agroecologia como modelo de produção”. Algumas áreas do estado, como o assentamento Terra Vista, em Arataca, já possuem produção 100% agroecológica. Em outras, como o Recôncavo, há em curso uma formação massiva em assentamentos e acampamentos em transição agroecológica.

A comunicação e a cultura também foram citados como elementos chave para o movimento no estado. “Já temos rádios, produção de cadernos de formação, registros de atividades, da nossa história. O objetivo agora é construir uma cultura que não seja de massa, e que possa educar o povo, e não deseducar como fazem os grandes meios de comunicação.”

Os espaços institucionais também são um campo de batalha do movimento. Para Beth, é preciso ocupar os partidos e o governo: “É preciso estar lá para demarcar nosso território, defender nossa bandeira. Hoje temos o nosso deputado federal Valmir Assunção, diversos vereadores, e mais recentemente a Lucinha (Vera Lúcia Barbosa), secretária na pasta de Políticas para as Mulheres (SPM).” Mas ela alerta: “não podemos nos deixar cooptar”.

Beth falou ainda dos desafios para a juventude e para as mulheres. “Com a idade do nosso movimento, aqueles que participaram da fundação já não têm mais tanta energia para militar. Por isso temos que cuidar da renovação de nossos quadros. A formação da juventude é uma prioridade do movimento. “Hoje temos cerca 600 educadores e mais de 5000 educandos. E temos uma grande novidade: além dos cursos superiores de agronomia, letras e pedagogia, vamos abrir em breve uma turma de Direito. Vamos ocupar mais esse espaço historicamente dominado pelas elites.”

As mulheres, segundo Beth, vem ganhando cada vez mais importância no movimento. “Já realizamos o 11o acampamento da mulheres, e temos cada vez mais mulheres na direção e em cargos importantes, como a Lucinha na SPM”.

Beth finalizou ressaltando a importância das parcerias nesta trajetória de 25 anos no estado da Bahia. “Sem elas, nunca teríamos chegado até aqui.” Na festa foram homenageados alguns parceiros do movimento nesta caminhada: o Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias – NEPPA, o Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul – CEPEDES, a Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE, o DCE da UFBA, Quilombo, o Partido dos Trabalhadores, a Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais, o grupo Geografar, a UNEB, o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA e a Central Única dos Trabalhadores – CUT.