Com rebeldia e alimentando a utopia, Sem Terra dão início ao 28º Encontro Estadual do MST


A chuva ainda insistia a cair em Salvador quando cerca de 1.500 trabalhadores e trabalhadoras rurais Sem Terra despertavam. Mesmo, depois de horas de viagem e meses de preparação e mobilização, aqui estavam neste domingo (10/01), dia da abertura do 28º Encontro Estadual do MST.

Não demorou muito e o sol cuidadosamente pintava a mística de abertura do Encontro que iluminava a plenária e os rostos daqueles e daquelas que estavam ali para compartilhar experiências, aprender e se organizar.

No palco, as flores decoravam a mesa daqueles que iam trazer na análise do atual cenário político os desafios do movimento. Mas, era na plateia que estavam os frutos. Milhares deles. Era o povo – o fruto de quase 30 anos de luta do MST na Bahia.

Chegaram, então, as bandeiras. De um lado, a representação dos gritos golpistas daqueles que não aceitam a derrota nas urnas. De outro, as vozes dos trabalhadores e trabalhadoras do campo, que gritam “fora Cunha” e “abaixo o ajuste fiscal”. 

São estes companheiros e companheiras que têm nos bonés e bandeiras vermelhas a resposta para os problemas coletivos: a organização popular. Assim foi a mística de abertura - a representação da luta de classes, a importância dos símbolos do movimento e as pautas de milhares de trabalhadores camponeses e operários.


De acordo com Lucineia Durães, da direção estadual do MST, a mística nos reúne no MST. “É muito forte, porque é a certeza de que nós aqui construiremos uma sociedade melhor”.

“O objetivo de nossos momentos místicos é alimentar a utopia de podermos construir nossa luta a partir do nosso cotidiano, mas também, a partir da nossa ideologia, dos nossos sonhos. É o momento de trazer para hoje o que sonhamos em construir”, explicou.

Se, por um lado, vivemos hoje em tempos de crise – política, social, ambiental e econômica, segundo João Pedro Stédile – também é preciso manter acesa a chama da utopia, já que o movimento tem avançado nas conquistas e “só com a luta popular conseguiremos vencer os desafios colocados”, destacou.


Paulo César, da direção estadual, concorda. “É momento da agricultura camponesa avançar na luta de classe, de massificar os acampamentos, de fazer novas ocupações, trazer essa população rural que está nas periferias da cidade de volta para o campo. É o desafio da massificação.”

O 28º Encontro Estadual do MST começou apontando desafios urgentes: lutar contra o golpe, superar as crises, voltar a fazer trabalho de base e unificar um projeto para a classe trabalhadora.

Serão mais três dias para aprender, debater e planejar ações para o ano que se inicia. Ao mesmo tempo, serão dias para estar entre companheiros e companheiras, de compartilhar os sonhos e o suor daqueles que nunca descansam.

É tempo de mudança – e o sol que já voltava a brilhar ao meio-dia em Salvador era o prenúncio dessa transformação.