Experiências apontam a educação do campo como método revolucionário

O 17º Encontro Estadual de Educadoras e Educadores do MST na Bahia que teve início nesta última quarta-feira (16) e irá até o sábado (19) na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), está sendo mais um espaço onde o sistema educacional brasileiro é questionado através de palestras e exposições sobre as práticas e experiências da educação do campo.


Por meio destes elementos de discussão, diversas regiões da Bahia estão socializando e trocando experiências educativas vividas no processo formativo nas escolas do MST, tendo como foco, as turmas de educação infantil, ensino fundamental, médio e EJA.

Algumas destas experiências estarão sendo apresentadas no 2º Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária (Enera), que será realizado em Luziânia (GO) a partir desta segunda-feira (21).

De acordo com José Ronaldo, do coletivo estadual de educação, “o estado burguês utiliza a educação para implantar seus diversos ‘pacotes’ com o objetivo de fazer das pessoas que vivem no campo massa de manobra e mão de obra barata disponível para o agronegócio. Do outro lado, temos a educação construída no campo popular que pauta o sujeito e suas relações como prioridade nesta construção política”.

“Nossas experiências e métodos pedagógicos nos ajudam a perceber na prática que é possível fazer diferente em nosso país”, explica Ronaldo. 

Dando sequência, Edineide Xavier destaca a trajetória do MST e a relação dialética da educação do campo com as lutas dos povos oprimidos, compreendendo a pedagogia do MST como um mecanismo de luta.

“A educação no MST não é algo desvinculado do contexto político e social do movimento, independentemente de onde a escola esteja inserida, no acampamento ou no assentamento”, afirma Xavier.

Frente a isso, os educadores apontam as experiências formativas realizadas nas escolas do campo como elemento capaz de impulsionar o debate em torno da luta popular.

Ciranda Infantil

A Escola Municipal Fabio Henrique, localizada no Assentamento Lagoa e Caldeirão, em Vitoria da Conquista, no sudoeste, apresentou a ciranda infantil como uma ferramenta educativa capaz de fortalecer as lutas cotidianas do MST, além de propor através de atividades lúdicas avançar no método trabalhado com a educação infantil. 

A escola vem construindo essa ideia desde o ano de 2011 e 2012, onde inicialmente a ciranda funcionava nas casas cedidas pelos assentados. 

Esta estrutura era precária, mas com conteúdos que permitiam a valorização da identidade camponesa. 

Somente no ano de 2015 que a escola conquistou a construção de um espaço apropriado para os Sem Terrinha. 

Atualmente a ciranda possui várias turmas cumprindo sua função na formação e dando acompanhamento qualificado através do aprender brincando.



Sim, eu posso

O projeto de alfabetização cubano, “Sim, eu posso” erradicou o analfabetismo em sete áreas de assentamentos e acampamentos do MST no extremo sul baiano, tendo na coordenação a Escola Popular de Agroecologia Egídio Brunetto, localizada no município do Prado. 

O método teve sua aula inaugural no dia 09 de janeiro de 2015 e conclusão com formatura e entrega de diplomas no dia 10 de maio.

As atividades contaram com 203 educandos, 20 educadores e cinco coordenadores, divididos em cinco núcleos de alfabetização.

As aulas aconteciam de segunda a quinta e na sexta-feira era dia para estudo, planejamento e avaliação da coordenação junto com os educadores. 

Aconteciam reuniões quinzenais da coordenação dos núcleos de alfabetização e a criação de espaços culturais de interação entre educandos e comunidades.



Agroecologia

Outra experiência pautada no encontro foi a implementação da agroecologia no currículo escolar da Escola Municipal Paulo Freire, localizada no Assentamento Luiz Inácio Lula da Silva, em Santa Cruz Cabrália, também no extremo sul.

Com início em 2013, a agroecologia neste contexto é aplicada da educação infantil até o 9º ano, a partir dos debates do coletivo de educação regional junto com o coletivo da Escola Popular.

As práticas começaram a ser desenvolvidas de formas interdisciplinar, potencializando as aulas de técnicas agrícola através da inserção do conhecimento popular da comunidade.



Adolescência Sem Terra

No baixo sul baiano, as diversas linguagens artísticas ocuparam as escolas do campo através da 1º Amostra de Arte e Cultura do MST produzida pelos adolescentes e adultos Sem Terra.

A atividade foi realizada pela Escola Municipal de Ensino Fundamental Jubiabá, localizada no Assentamento Lucas Dantas, no município de Ituberá.

A amostra mobilizou 20 escolas e mais de 700 estudantes em comemoração aos 30 anos do MST.



Estas experiências são fruto da luta das famílias, que em parceria com o setor de educação vem enfrentando cotidianamente no fazer educativo.

Com isso, os educadores e educadoras do encontro, acreditam que as práticas socializadas são a materialização da resistência histórica da classe trabalhadora por uma nova sociedade.