Oficinas debatem o protagonismo e a autonomia da mulher Sem Terra

Marcadores:

Núcleo de Formação Santa Brígida - Assentamento
Antonio Conselheiro IV
Abaré (BA)
Por Wesley Lima

“O que eu mais quero é trabalhar, me organizar e conseguir garantir o pão de cada dia para meus filhos e para mim” desabafa a trabalhadora rural Maria do Socorro (52) ao participar de uma das oficinas do projeto de Capacitação de Mulheres Assentadas e Acampadas para o Acesso a Políticas Públicas da Bahia.

As oficinas possuem o objetivo de garantir o debate em torno das relações de gênero e a organicidade coletiva de trabalhadoras rurais para terem acesso as diversas políticas publicas implementadas a nível nacional e de estado.

De acordo com Elizabeth Rocha da Direção Estadual do MST, “é importante construir um espaço de organização das mulheres, devido ao processo histórico de negação do protagonismo na construção da sociedade. As mulheres, em especial do campo, sempre foram invisibilizadas na constituição e direção das lutas e instituições com um papel secundário nestes espaços”.


Pensando nisto, fortalecer o processo produtivo e econômico das mulheres que estão assentadas ou acampadas é dado pelo MST como uma proposta de enfrentamento a violência e a construção da autonomia feminina nos diversos campos sociais.

As oficinas estão acontecendo em oito regiões da Bahia, tendo início neste segundo semestre e pretendendo encerrar-se em novembro com um grande encontro reunindo cerca de mil trabalhadoras rurais.

Metodologia

A princípio todas as oficinas foram pensadas para envolver 400 mulheres lideranças acampadas e assentadas de todo o estado. Para isso, é realizado previamente um momento de mobilização e planejamento das ações pedagógicas.


Um dos principais objetivos é trabalhar o processo de formação vinculada à ação através de um projeto de capacitação continuada subdivididos em 17 núcleos de formação nas regionais de atuação do MST.

Os núcleos de formação (NF) possuem entre 20 e 30 mulheres respectivamente e as oficinas possuem a duração de três dias cada.

Estão sendo realizadas também atividades com as crianças, garantindo assim uma efetiva participação de todas.

Temáticas

Estão sendo abordados temas que conseguem dialogar com a história da mulher na sociedade, o enfrentamento a violência e o protagonismo feminino na luta de classe, tendo como base suas diversas conquistas. Desta forma, temos três eixos centrais para o estudo.

Primeiro, a história e o papel da mulher na sociedade, buscando compreender como a mulher foi sendo formada socialmente, o contexto de formação das classes sociais, sua função, sexualidade e reprodução.

Em seguida, a organização política e as mulheres, tendo como base o seu papel na luta de classes, a luta por direitos, sua organização social e política.

Por ultimo, as Políticas Públicas, enfatizando sua legislação e as políticas específicas para as mulheres, assim como seu acesso e a construção de sua autonomia.

Compreendendo a importância destas oficinas e os temas em questão, Elizabeth nos afirma que “estes espaços buscam promover nas mulheres o perfil de lideranças sociais no seu espaço por trazer informações e formação para constituição de ações de empoderamento e autonomia dentro dos assentamentos e acampamentos com acesso as políticas públicas. Queremos que esta ação possa transformar as realidades”.

Maria Dalva, assentada, ao participar da oficina declara que “a vida para nós mulheres nunca foi fácil e a história serve como norte para observarmos isso. Eu por exemplo, sou casada, tenho cinco filhos e sempre achei que a minha obrigação é cuidar da casa, dos filhos e do meu marido. Sinceramente, preciso cumprir o meu papel quanto mulher e trabalhadora Sem Terra”.

Já Salém Batista, também assentada, acredita que é possível realizar mudanças, mas para isso as mulheres precisam se unir e lutar contra qualquer tipo de violência e fazer do trabalho o alicerce de sua autonomia.

Este projeto de capacitação e formação está sendo construído em parceria com a Fundação Juazeirense para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico, Econômico, Social, Cultural e Ambiental (Fundesf), Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) e a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM).

Até então já foram realizadas 12 oficinas em todo o estado. Faltando apenas construir mais cinco espaços de formação e capacitação.