Trabalhadoras Rurais continuam mobilizadas na Fazenda Cultrosa e denunciam a desigualdade de gênero



Desde terça-feira(05), mais 400 mulheres Sem Terra ocuparam a Fazenda Cultrosa, no município de Camamu. As mulheres continuam reivindicando a negociação da dívida dos trabalhadores rurais com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em todo o estado e apontam a desigualdade social provocada pelos grandes latifundiários na região.

Com esta perspectiva de luta, as mulheres denunciam a desigualdade de gênero na sociedade, propondo a construção de um modelo social que respeite o ser humano e preze a coletividade como metodologia de sustentabilidade financeira e social.

A luta por igualdade de gênero não é uma bandeira defendida apenas pelas mulheres Sem Terra, mas sim, uma luta unificada entre os movimentos sociais ligados ao campo e da cidade.

A Mulher na Sociedade

Maria Lúcia, acampada no Acampamento Alto da Bela Vista, afirma “antigamente as mulheres não eram respeitadas. Em muitas famílias o lugar da mulher era na cozinha. Porém, nós mulheres nos organizamos e conseguimos conquistar direitos, direitos estes, que não são respeitados pela sociedade como um todo. A mulher deve continuar organizada e acima de tudo, continuar lutando para construir uma sociedade melhor”, avalia Maria.

Em muitos casos o desrespeito contra a mulher é tão latente que se transforma em agressão física, moral, sexual.  Como prova disso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 43,1% das mulheres brasileiras já foram vítimas de violência em sua própria residência. A mesma pesquisa mostra ainda que, de todas as mulheres agredidas no país, 25,9% foram vítimas de seus cônjuges ou ex-cônjuges.

Segundo a Secretaria de Políticas para as Mulheres, o número de atendimentos feitos pela Central de Atendimento à Mulher cresceu 16 vezes de 2006 para 2010. Em 2006, foram feitos 46 mil atendimentos. Já em 2010, foram 734 mil. Desse total, 108 mil atendimentos foram denúncias de crimes contra a mulher. Mais da metade desses crimes eram casos de violência.

08 de Março


Internacionalmente o 08 de março é conhecido como o dia da mulher. Sendo visto pelo MST como um espaço de luta constante, priorizando a participação feminina na reivindicação de questões que é um direito social e que historicamente vem sendo negados pelo machismo.

Para Naiane da Silva, integrante da direção estadual do MST na Bahia, “o dia 08 de março a sociedade traz consigo a ideia de que este é o dia da mulher receber flores. Mas, dentro dos movimentos sociais, em especial o MST, este dia é um momento para refletirmos, lutarmos, estudarmos e nos confraternizar e isto deve ser visto pela a sociedade. Este dia também é para relembrarmos das várias trabalhadoras que foram mortas e massacradas pelo machismo”.

Ela conclui enfatizando que “hoje continuamos levantando a bandeira do 08 março, da reforma agrária, da luta social e a acima de tudo da construção de uma sociedade melhor.

Simbologia

Durante o período em que as mulheres estão acampadas na cede da Fazenda Cultrosa, as mesmas estão construindo coletivamente uma colcha de retalho customizada por 400 mulheres.

Para a direção do MST esta colcha representa a coletividade, a unidade da mulher Sem Terra perante a luta de uma sociedade igualitária, sem machismo ou qualquer tipo de preconceito que desvaloriza o ser humano como tal.