“Zerar o analfabetismo é o primeiro passo para libertar o trabalhador das prisões deste sistema desigual”, afirma o coletivo de Educação do MST durante a formatura de 180 trabalhadores Sem Terra que participaram do projeto cubano de alfabetização para jovens e adultos “Sim, eu Posso”.
A comemoração aconteceu neste ultimo sábado (09/05) na Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, localizada no Assentamento Jaci Rocha, e reuniu mais de 300 famílias.
O projeto de alfabetização conseguiu zerar o analfabetismo nos Assentamentos Jaci Rocha, Antônio Araujo, Bela Manhã, Herdeiros da Terra, José Martí e Abril Vermelho, usando como metodologia tele aulas em dezessete turmas, cada uma, acompanhada por um educador.
Além disso, quatro coordenadores pedagógicos estavam cumprindo o papel de organizar e construir coletivamente com os educandos e educadores temas norteadores para os debates em sala de aula.
Com o lema “Sim, eu posso ler e escrever. Essa é uma conquista do MST” as aulas tiveram início no dia 10 de janeiro e foram finalizadas no dia 25 de abril.
Dificuldades
Ao longo do processo algumas dificuldades surgiram, especialmente, porque a maioria dos educandos estão em idade avançada e trabalham todos os dias na produção familiar. Devido ao cansaço, muitas faltas aconteciam.
Em muitos assentamentos as salas de aula não tinham estrutura para o desenvolvimento do projeto e para isso contou com a participação e cooperação de todos educandos, educadores e da comunidade.
Outra dificuldade surgiu nos primeiros dias de aula. Compreender a metodologia abordada pelo projeto, com as tele aulas e associar as letras e números ao processo de alfabetização não foi fácil.
Segundo os educadores, esta dificuldade se dá por conta do processo de alfabetização já construído pelo modelo de educação do estado, mecanizando a metodologia.
De acordo com Eliane Kay, cordenadora do projeto, o programa alcançou bons resultados apesar das dificuldades enfrentadas. “Contamos com ferramentas muito importantes para facilitar a metodologia, como televisores, cartilhas e óculos doados aos educandos”.
Sim, eu Posso
O projeto de alfabetização “Sim, eu Posso” foi construído em Cuba pela pedagoga Leonela Relyz Diaz, falecida em janeiro deste ano.
As atividades desenvolvidas propõem alfabetizar em apenas três meses utilizando a linguagem popular e usando os números como referência educativa. Além disso, são escolhidos temas geradores, que dialogam com a realidade de cada localidade, para garantir um espaço de debate e formação política.
“O mais importante deste projeto é que a abordagem parte da comunidade para os educandos. Desta forma, cada estudante acaba se sentindo mais seguros para avançar nos debates e compreender o mundo de uma forma diferente”, afirma o educador Lindoel.
O Sim, eu Posso já vem contribuindo para erradicação do analfabetismo em diversos países, como Vietnã, Bolívia e Venezuela.
Educandos
Durante a formatura muitas histórias de vida emocionaram a todos.
Maria Aparecida, assentada, declarou que não tinha pai e sua mãe era pobre. “Me criei na roça trabalhando e então não tive como estudar”.
“Quando ainda era criança minha mãe falava que nós estávamos indo a aula para arrumar namorado e ai ela não deixava a gente estudar”, enfatiza Maria.
A história de José Sebastião não é diferente, “Eu não fui à escola quando era criança, porque meu pai colocava a gente nos trabalhos da roça. E não foi só eu, meus dois irmãos passaram pelo mesmo”.
Já sabendo ler e escrever, Sebastião afirma que hoje as coisas mudaram. “Consigo ler algumas palavras, inclusive as cartas e bilhetes que meus filhos mandam para mim. Consigo também, escrever meu nome. Me sinto livre. Sempre precisei de alguém para fazer essas coisas. Hoje não”.
Formatura
Parabenizando todos os educandos pela coragem e o desafio de concluir os estudos Eliane Kai da direção regional do MST afirma que “este é um momento sublime, de alegria e festividade, porque o objetivo foi alcançado. Conseguimos zerar o analfabetismo em sete áreas destinadas a Reforma Agrária e a partir de agora essas áreas são territórios livres”.
Já Evanildo Costa da direção estadual do MST, “essa é uma experiência muito importante. É um projeto que deu certo e que as autoridades políticas da região deveriam tomá-lo como exemplo na luta contra o analfabetismo e desenvolvimento da nossa região”.
Compreendendo a importância do projeto para eliminar o analfabetismo na Bahia, o Deputado Federal Valmir Assunção (PT – BA) parabenizou o exemplo de força e resistência dos educandos em superar as dificuldades e abrirem novos horizontes.
Para o Deputado o resultado desse projeto deve ser levado ao conhecimento da sociedade. “Defenderei junto ao Governador da Bahia Rui Costa a importância da multiplicação desse projeto para eliminação do analfabetismo em nosso estado”, conclui.
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